Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2020

O Gato-Prodígio

  E desde então, aquela sombra parecia seguir-me. Por isso... Por isso eu andava tão nervoso, psicótico até. Era uma sombra negríssima, negra como ébano. Olhava para as paredes rochosas e cristalinas, sem nunca olhar para trás. Não sabia o que estava a acontecer. O vulto cercava-me por trás aproximando-se lentamente, como um animal-selvagem. Corria e corria, até não poder mais. A entidade obscura chegava ao túnel, comendo pedaços dele. Podia ver a escuridade a aumentar atrás dos meus pés, obrigando-me a fugir do meu medo desconhecido. Consegui sair do túnel infernal, em direcção ao  ar fresco. Estava numa praia, sentia a maresia a entrar nas minhas narinas e o vento quente a bater na minha face. O Sol   incendiava sob a areia branca e suave. Quanto aliviado que eu estava! A sombra saiu do túnel taciturno. A sombra diminuiu de tamanho, encolhendo, ficando mais esférica. Adquiria olhos, orelhas, focinho e uma boca pequena. Uns longos bigodes, ele ou ela tinha. Era um gato p...

A Caixa do Golem

  Coriscava fortíssimo naquele dia. Um rio sanguíneo assolava as paredes, tecto, o chão íngreme, áspero e pedregoso. Uma marreta pétrea batucava, batucava, batucava, o instrumento era levado pelas mãos ásperas da criatura lítica e antropomórfica; e com essa mesma marreta o golem sanguificava pela casa fora num frenesim de meter pavor. Todos que eram apanhados pelo golem em fúria eram esmiuçados em pedaços rosáceos e em botas. Ninguém sobreviveu àquela hecatombe naquela casa danada. Os jornais diziam: "O Esmiúça-Gente ataca de novo!" Sinfrónio Matatudo era um camponês que ansiava um dia poder encontrar algo de novo na sua vidinha. Sinfrónio Matatudo era conhecido por matar tudo, desde insectos, aranha, escorpiões e até pombos matava à paulada se estes fizessem ninho no sótão. Também dava paulada nos vendedores que iam à porta dele impingir bugigangas. Um desses vendedores queria-lhe vender uma caixa arcana de marfim e com listras de ouro. Sinfrónio Matatudo não queria a caix...