Coriscava fortíssimo naquele dia. Um rio sanguíneo assolava as paredes, tecto, o chão íngreme, áspero e pedregoso. Uma marreta pétrea batucava, batucava, batucava, o instrumento era levado pelas mãos ásperas da criatura lítica e antropomórfica; e com essa mesma marreta o golem sanguificava pela casa fora num frenesim de meter pavor. Todos que eram apanhados pelo golem em fúria eram esmiuçados em pedaços rosáceos e em botas. Ninguém sobreviveu àquela hecatombe naquela casa danada. Os jornais diziam: "O Esmiúça-Gente ataca de novo!" Sinfrónio Matatudo era um camponês que ansiava um dia poder encontrar algo de novo na sua vidinha. Sinfrónio Matatudo era conhecido por matar tudo, desde insectos, aranha, escorpiões e até pombos matava à paulada se estes fizessem ninho no sótão. Também dava paulada nos vendedores que iam à porta dele impingir bugigangas. Um desses vendedores queria-lhe vender uma caixa arcana de marfim e com listras de ouro. Sinfrónio Matatudo não queria a caixa mas lá comprou a caixa para se vir livre do misterioso vendedor. A caixa tinha letras do alfabeto hebraico. Lia-se "Emet". Sinfrónio Matatudo abriu a caixa com curiosidade. E na caixa...tinha...
Uma máscara de pedra? Sinfrónio pôs a máscara pedrosa e viu-se a ser petrificado morosamente. Ele agora era um monstro antropóide e rochoso. Um golem da tradição cabalística. Ele pegou na marreta e matou tudo o que estava na sua frente. Era agora uma fúria intensa. Era o Matatudo não era? O que era a caixa? Ninguém sabe. Não era na realidade de origem hebraica. O golem não era um golem. Era uma farsa feita pelo vendedor para dar uma lição aos camponeses anti-semitas. Quem era o oculto vendilhão? Aquele sinistro bufarinheiro vestido de carmesim e veludo negro? Era o Cão Tinhoso. A Coisa-Ruim. O Mafarrico. Ele era o Diabo.
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