Havia uma peça que um dia quando tiver tempo, irei escrever. Uma peça inspirada num grande amigo meu e de muitos actores que infelizmente morreu. Há uns anos fui vítima de violência doméstica pela parte da minha madrasta, esta obrigou-me a frequentar uma comunidade evangélica em Coruche, gerida por Renato Abrantes, um pastor corrupto que de pastor, evangélico ou cristão não tinha nada. Ele era o terror de todos. Quase todos os actores da geração de Ruy de Carvalho, Filipe La Féria e Eunice Muñoz o conheciam. Ainda por cima, Renato odiava católicos e eu fui criado como católico, sendo complicado para mim. Era obrigado a trabalhar de sol-a-sol, sem receber nenhum dinheiro. Eu e todos os outros que sofriam às mãos do terrível pastor Renato. Havia de tudo nessa comunidade, incluindo sem-abrigo, idosos e muitos actores. E erámos todos maltratados, ninguém podia sair da quinta onde trabalhávamos e vivíamos em escravidão. Quem recebia rendimentos do Estado, incluindo pensões, era obrigado a dar à falsa igreja. Mesmo os reformados tinham que dar a sua pensão, ficando sem nada. Nessa comunidade onde passei um ano, conheci dois excelentes actores, Alberto, filho adoptivo de Eunice Muñoz; e Henrique Leal também conhecido no mundo das artes como Ninó. Ninó também era um magnífico chef de cozinha e pintor. Travei uma amizade profunda com Alberto e Ninó. E também com um homem que sofria de deficiência mental, chamado Geninho. Geninho era o que mais sofria às mãos de Renato. Eu e o Ninó adorávamos o Geninho. Era nas palavras de Ninó, puro de alma. E era, Geninho era uma alma boa. E era atroz o que o Renato fazia ao Geninho, a humilhação. Ele humilhava toda a gente, incluindo eu e o Ninó. Mas quando Renato humilhava Geninho, partia-me o coração. Renato não era cristão. Felizmente acabei por fugir daquela quinta, ter liberdade, respirar de alívio e ter o sol a bater na minha cara. Infelizmente, Ninó que tinha problemas cardíacos fortes, precisava dos comprimentos e Renato não quiz logo ir buscar os comprimentos para o Ninó. Ninó faleceu de enfarte. Todos os dias penso, naqueles tempos negros. Tenho saudades de Ninó, Geninho e Alberto. E irei fazer uma peça de teatro inspirada neles chamada simplesmente: "Geninho". A história de Alberto, filho adoptivo de Eunice Muñoz, de Geninho, puro de alma e de Henrique Leal, o grande Ninó, actor, pintor, chef de cozinha e verdadeiro cristão até ao fim. E como sofriam por causa do terrível Renato Abrantes, pastor, mas pouco cristão. Quando fugi de lá, decidi que não ia desistir do teatro, e inscrevi-me no curso de Oficina de Teatro no IEFP do Seixal, com Afonso Miguel Guerreiro. Tenho pena que Ninó nunca irá ver o legado que deixou no teatro, mas todos os actores que se lembram de ti, nunca te irão esquecer.
Fernando Emanuel Pinheiro
Brejos de Azeitão, 20 de Abril de 2025.
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