Em tempos remotos e lugar desconhecido, o padre Pedro caminhava pelo pedregoso chão e descobriu uma porta pétrea e arcana. Estava no meio do caminho sem existir nada por detrás dela. O padre abriu a porta e deu-se numa caverna escura como breu. O padre avistou um fulgor, aproximou-se e contemplou um lago límpido e alviceleste. Belo. No lago havia muitas formas viventes nas rochas. Entre os petrícolas existia desde polvos a lulas; também havia uma pedranceira onde continha todo o tipo de pedras preciosas. O padre Pedro não conseguia pregar às pessoas; então ele pensou que se calhar era melhor pregar às pedras! Ele podia realizar um sermão de fazer chorar as pedras. Ou ver qual é a pedra que atirava a primeira pedra. Talvez atirar a pedra e esconder a mão. Não podia era haver uma revolta pedral e com quatro pedras na mão. O padre ainda levava uma pêra das pedras, se não lhes dissesse as regras. Seria a perda do padre. Pedro aproximou-se do pedregal e notou um vulto nas águas. Uma feminina forma com um aquoso e translúcido vestido. Era uma ninfa. Seria o pedral um ninfeu? E ela? Uma ondina, uma nereida ou uma sílfide? O padre encantado também queria pregar para a ninfa, mas primeiro Pedro foi pregar pregos numa tábua de madeira com uma inscrição bíblica. Pedro, atónito, decidiu pregar às pedras e à ninfa; e pregar pregos ao mesmo tempo. O padre Pedro pregou os pregos e tropeçou nas pedras, pregando.
Ele lembrou-se que duas pedras duras não fazem farinha. As pedras
gritaram de dor com o tropeço do padreco. As pedras gritantes e viventes
começaram a gesticular e fazer uma teatrada. Com teátrica imaginação as pedras,
em vez dos homens fazerem de pedras, as pedras fizeram de homens. A
antropomórfica natureza.
Nesta fabulosa pedraria e teatral, veio o Diamante, um paladino
estonteante, brilhante e radiante. O Diamante era um cavaleiro alvo, íntegro e
resistente; com um primor moral incorruptível. Uma beleza adamastoriana que era
o alvor do seu adamantino palácio. Um palaciano paládio com uma função similar
à sua égide e espada.
Depois veio o Rubi, que poderia ser ruim, era um pândego ébrio pleno de
fogo e sangue no seu espírito. Mas também era muito púdico e ficava rubicundo
quando via a ninfa nua como a lua. Mas a sua rubescência também era por causa
das pândegas cheias de rubinéctar e amoras. O seu néctar e ambrósia dos deuses.
Enquanto o padre lia a rubrica do livro de Rute; o Rubi tinha sempre que ler a
rubrica do seu papel de beberrão.
Agora veio a Esmeralda sempre bailando, jovem e ágil. Era uma bailarina
plena de fortitude, mas ainda verde e com muito por crescer. Dotada de um
esmero incrível, no baile ela estava sempre na baila, mas dava baile a todos e
todos acabavam por levar um baile.
Finalmente aparecia a Safira, bastante envergonhada como se estivesse
num safári, ela era uma ninfa. Com um aquoso e translúcido vestido. A sua nudez
embelezava os nenúfares. Uma silhueta azulada e etérea que fascinava o padre.
Pedro decidiu levar a Safira consigo e usá-la como adorno sempre que prega,
pois para ele a ninfa era o seu Espírito Santo. Hoje, ele já consegue pregar às
pessoas. Viu a água do lago esmiuçar um penedo e lembrou-se que água mole em
pedra dura, tanto dá até que fura.
FIM
Fernando
Emanuel Pinheiro
Brejos de Azeitão, 25
de Abril de 2023.
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