I. Ela, a Sereia
Recebi. Um poema. Uma declaração.
De amor.
Palavra tão forte.
Afirmações de amor à primeira vista e saudades.
Admiração por alguém que não se conhece. Porquê eu? Qual o meu valor?
A minha voz? Sou reduzida à minha voz?
Amor à primeira vista.
Contos de fadas e telenovelas.
Até uma sereia eu sou! Uma sereia que fica sem voz!
Sou algum peixe para ser pescado? Pescado e comido?
II. Ele, o Pescador
Do poema a sereia não gostou.
Farpas me ferem.
Mágoa. Desilusão.
Sinto que fiz tudo em vão.
Tirar a tua voz eu não queria.
Saudades tuas eu tenho.
De ouvir-te cantar.
Não queria que apenas fosses uma voz sem personalidade e corpo. Sem alma.
Como aquela sereia sem voz que se transformou em espuma e ascende ao Céu. Talvez o pôr-do-sol?
Ó que almas infortunadas!Apenas a tua voz?
Não, eu amei-te. Mesmo. Em tudo.
Voz. Olhares. Mente. Personalidade. Gestos.
Pantomima.
Eras a minha Colombina, a minha sócia favorita.
III. Ela
Não! Impossível! Será tudo uma desilusão.
Não sei quem és e tu não sabes quem sou.
Será que me conheces realmente?
Posso não ser uma sereia, mas sim um tubarão; e os tubarões mordem.
Queres isso?
Somos apenas conhecidos.
Não podes sentir essas emoções todas.
IV. Ele
Não posso. Tudo aquilo que sinto é falso.
Uma mentira. Ilusão.
Não passo de um pescador atrás de uma sereia sem voz.
Somos apenas conhecidos.
Tens razão nisso.
Nunca quis ser um pescador que tira a voz.
Nem sou. Indignação eu sinto.
Farpas atiramos um ao outro.
Choro. Muito. E chorei tudo aquilo que tinha.
Sim, éramos apenas conhecidos, de facto quase não nos falávamos.
E lamento, mas nunca te quiz tirar a voz.
Sempre que vir um sublime delfim, irei lembrar de ti, da tua voz, mas não apenas da tua voz.
Da tua personalidade, carácter, mente.
Do teu eu. Um eu que alegas não conhecer.
Chorei tudo aquilo que tinha para chorar e disse tudo aquilo que tinha para dizer.
Tens um grande Coração e és incrível.
A razão porque gostava de ti, era porque eu adoro o mar e o Sol, e adoro quem adora o mar, o Sol.
Quando vejo o pôr-do-sol penso em ti. Tenho...
Saudades.
V. Ela
Não...Assim não...
O que disse?
O que dissemos um ao outro?
Não és um pescador que quer tirar a voz.
Eras o único pescador que me ouvia cantar.
Estou mal. O meu pescador não apareceu mais.
Não consigo cantar.
Fiquei sem voz.
Disseste tudo aquilo que tinhas pra me dizer.
Se soubesse. Se soubesse antes que me querias.
Que... Me amavas.
Não teria esitado.
Procuro-te. Onde estás?
Saudades. Saudades quando me querias ouvir.
Olha pra mim! Fica comigo!
VI. Ele
Saudades. Arrependimento.
Porque dissemos aquilo?
Procuro-te. Na praia, no farol, nas escarpas, pelos trilhos.
O teu nome escrevo na areia.
VII. Ela
Procuro-te. Na praia, nas escarpas, pelos trilhos.
O meu nome escrevo nas paredes para tu encontrares.
Vou à tua praia favorita saber se me procuras.
Não te encontro.
Sabes lá o quanto eu te amo. Sabes lá.
Olha pra mim! Não deixes que a nossa história acabe assim!
Diz o que eu fui pra ti!
Encontra-me!
VIII. Ele
Não encontro a minha sereia.
Ondes estás tu?
Porque dissemos aquilo?
As saudades matam-me. Ainda me lembro quando te vi no canto que dá para a Liberdade e Fortaleza.
Vejo o arrebol.
Um magnífico fenómeno eu vejo na foz.
Ouro sobre azul.
Penso em ti.
Como adoras o mar e o Sol como eu.
Por vezes penso se sentes saudades minhas ou se sentes a beleza e a paz ao ver o sol poente como eu.
Não te encontro.
Queria voltar a ver esses teus olhos de mar.
Eu adoro o mar e o Sol; e adoro quem adora o mar, o Sol.
IX. A Sereia & o Pescador
Procuro-te! Encontra-me!
Eu amo-te!
Olha pra mim!
Quero poder voltar a ouvir a tua voz!
Quero poder ficar ao teu lado!
Ele, o Pescador: Foste o meu mar e sol na minha vida. Ainda és.
Fernando Emanuel Pinheiro
Quinta do Conde, Sesimbra, 10 de Outubro de 2023.
O meu poema O Canto da Sereia: Mar & Sol
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