Se pudéssemos,
Se pudéssemos pedir desculpa.
Farpas atirámos,
Magoados estamos.
Falámos sem pensar, como dois chihuahuas exaltados.
Na falecida imaginação, poemas e canções não nascem;
Se nascerem, nascem da dor, da mágoa.
Choramos, gritamos, gritamos para as nuvens e estrelas.
Se pudéssemos,
Se pudéssemos abraçar-nos e pedir perdão.
Severo fomos,
Invadimos o lar de cada um,
Invadiste o meu barco e eu o teu mar.
Estavámos em todo o lado,
A nossa ansiedade estava em todo o lado.
Não sentimos liberdade, alegria ou paz;
Não aguentámos,
Afastei-me,
A ansiedade ganhou.
Não!
Não quero ver-te mais!
Fui-me embora.
Não aguento mais, não!
Menti, menti ao meu ferido coração.
Eu queria falar, ver, ouvir,
Ouvir a tua alma, o teu coração.
Mas preferi ser o primeiro a abandonar-te,
Antes de ser abandonado e sofrer,
Antes do meu coração ser de alguém,
E para que sejas feliz com alguém melhor do que eu.
Porque nós somos acima de tudo almas livres,
Duas pobres almas infortunadas, magoadas e tão sós.
Ambos sem voz,
Voz levada pelo vento e as ondas do mar.
Mas ansiedade venceu,
Sozinha, triste com uma televisão a dar repetidos filmes,
Os mesmos clichês, a mesma comida,
O mesmo iogurte e bolachas,
A mesma cama e janela.
Paredes brancas e beges,
Numa prisão de gesso e dor, o amor se constrage.
Preocupado estou,
Já perdi mãe, já perdi pai.
Não quero que te vás,
Não sem ouvir o canto da sereia no europeu festival musical,
Não quero que a estrela mais brilhante seja extinta por facas manejadas por inexperientes operários.
Pela Arrábida passo, passo por onde o meu Pai esteve.
Chego até onde o meu Pai queria que os seus resquícios fossem abraçados pelo vento.
A uma casinha sob a noite estrelada e seu misterioso luar,
Onde o tempo pára e desejos se pedem,
O mesmo lugar onde pensas:
"Não aguento mais. Acabou".
O mesmo lugar falado no meu poema teatral,
Que tu ouves e choras.
Apenas saudades sinto te ti,
Apenas carinho e alegria queria de ti,
Não queria saber quem segues, com quem andas ou onde estás,
O que houve antes não me interessa,
Queria que fosses feliz e atingisses os teus sonhos,
De um dia seres a estrela mais brilhante da música.
Se pudéssemos pedir perdão,
Se pudéssemos,
Mas não pudemos.
Obrigado pela canção,
Estarás sempre no meu coração.
Amo-te.
Fernando Emanuel Pinheiro
Quinta do Conde, Sesimbra, 19 de Março de 2024.
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