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A Rapariga dos Dragões

Ele ia com a sua mãe ao hipermercado Continente, que sem saber ele iria encontrar o seu verdadeiro amor. Ele era fã de filmes animados da Disney como O Rei Leão ou Mulan. Adorava desenhar os seus personagens favoritos dos filmes como o javali Pumba ou o terrível leão Scar. Já em tenra idade gostava de contar histórias, mas em vez de escrevê-las, fazia bandas desenhadas na igreja onde frequentava a catequese. Tal como a sua mãe, ele adorava ler sobre religiões, mitologia e assuntos esotéricos e como tal ficava fascinado com a história de Moisés e as sete pragas do Egipto no Êxodo ou sobre a cabala que as suas catequistas contavam. O padre não gostou que se falasse de cabala judaica numa igreja católica, mas isso não lhe importava, ele adorava cabala. Ele ao desenhar as suas ficções, punha um herói a combater monstros sobrenaturais e o próprio Diabo, inspirado naquilo que lia, ouvia ou via. O Apocalipse era a parte que tinha mais interesse em ler. Na igreja ele conheceu uma rapariga lindíssima que estava a desenhar um dragão serpentino e espiralado. Ele estava a desenhar a sua história onde fazia o Diabo vermelho, cornudo, barbudo, de cabelo preto e com cascos fendidos. Ela mostrou interesse e dizia que o Diabo não era assim. E desenhou um dragão e disse que era assim o aspecto dele. Ele com curiosidade perguntou-lhe o nome e ela disse gozando que era o Diabo, assustando metade da catequese e irritando os pais dos catequizandos. Ela sorriu… Depois eles os dois voltaram-se a encontrar. Havia duas raparigas que gostavam dele, uma morena e uma loira. A morena era a rapariga que desenhava dragões, a loira era uma rapariga que adorava desporto. Elas eram rivais e lutavam pelo amor dele. Ele estava a desenhar um leopardo, mas estava aborrecido porque se enganou na cor de um dos olhos do felídeo, ficando com heterocromia. Elas rodeavam-no com mimos de amor, mostrando interesse nos desenhos dele. A rapariga dos dragões ficava estonteada por aquele rapaz misterioso e paciente. Muito sossegado e estóico, mas por detrás desse estoicismo havia nele uma alegria imensa que se desenhava na cara dele. Ela revia-se de certa forma nele, pois ela era também um pouco estóica, mas também apenas aparente. Era amor à primeira vista. Ela estava tão atónita que pediu à sua amiga ao lado para lhe perguntar o nome dele. A sua amiga dirigiu-se ao rapaz de expressão arcana e perguntou-lhe o nome. Ele respondeu celeremente dizendo o seu nome completo. A amiga dela não percebeu bem o nome dele e entendeu que era “Sérgio”. Ela radiante ao saber o seu alegado nome, foi ter com ele, chamando-lhe pelo seu nome atribuído. Este afirmou que não se chamava “Sérgio” e revelou o seu nome verdadeiro. Mas para ela isso não lhe importava, ele ia ser o seu Sérgio e namorado para sempre. A alegria e o afecto deles os dois se espalhava pela sala alva, de tecto cinza e com fileiras de cadeiras amarelas de plástico. Ambas as raparigas se diziam namoradas do Sérgio. Ele teve que escolher entre as duas raparigas, a loira desportiva e a morena dos dragões. Ele escolheu a morena, sem saber Sérgio estaria a escolher aquela que ia ser o seu verdadeiro amor. Eles os dois estavam sempre a encontrarem-se; no cabeleireiro, na praia ou no cinema do centro comercial. Uma vez foram com um grupo de amigos ao Oceanário de Lisboa, e apesar daquela escuridão abissal, os seus olhares conseguiam encontrarem-se e era como toda a treva se dispersasse. A água dos aquários era límpida e os seus habitantes ictíicos eram o público perante uma grande amizade que cresceu em amor. Se ela era a rapariga dos dragões, ele era o rapaz dos vampiros. Sérgio adorava histórias de vampiros e de sobrenatural. E adorava escrever histórias de sobrenatural e paranormal; e ela mostrava interesse nas suas criações fantásticas. Ainda passado anos, ela sempre lhe chama Sérgio e ele abraçou o nome, apesar de não ser seu.

 


Quinta do Conde, 18 de Janeiro de 2021.

 

Fernando Emanuel Pinheiro.


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