Melancolia de Um Homem Fraco sem Coração

Sou fraco.
Sou um homem.
Mas um homem com fraquezas.
Como quais quer outros.
Arrependo-me.
Fui severo contigo.
Queria apenas dar um conselho.
E ao fazê-lo.
Magoei-te.
Queria apenas corrigir o teu pecado.
E ao fazê-lo.
Magoei-te.
Amar Deus e amar o próximo é mais importante do que proteger uma nação.
No Céu não existem nações.
Foste terrível comigo; consideraste-me um mero diabrete e caçador.
Poesia palavras vãs e sem verdade.
Senti-me mal por escrever poesia feia para ti.
Eu fiz e disse para salvar a tua alma; mas fui mais terrível que tu.
No fim todos pecam.
Vês aqui um homem com coração partido.
Um homem fraco.
Não sou um cruzado ou um paladino.
Não sou um santo ou mártir.
Nem nunca serei.
Ser humilde é ter a noção que nunca serei santo.
Viver como eles; talvez.
Eternamente.
Espero que sim.
Mas nunca serei santo.
A vida são dois dias.
Mantenho a opinião que não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje.
Gosto de ti?
Bastante.
Mesmo sem paixão.
Mesmo perdendo quais quer esperanças de ter uma família.
Mesmo perdendo a tua amizade.
Não faz mal.
A senhora Pinheiro deve estar ainda à minha procura. Eu simplesmente ainda não a encontrei.
Um dia eu encontro-a e talvez ela também me diga o seu nome em segredo.
Serei sempre a borboleta que tu deixaste escapar.
Ou talvez uma traça? Não sei.
Foste embora e tiraste-me o coração.
Fizeste-me sentir que era um diabrete por escrever poesia.
Poesia feia para um lindo anjo com olhos de oceano.
A eterna e esplendorosa Estrela da Manhã.
Fui severo contigo.
Mas se fui; foi porque te considero a pessoa mais humilde de todas.
Nunca deixes de o ser.
Deves pensar que te acho uma pessoa horrível e um anjo arrogante.
Não. Estás enganada.
A paixão pode ter morrido; mas o afecto não.
Eu apenas estou triste contigo.
Foste embora e arrancaste-me o meu coração.
Devolveste-o em pequenos resquícios que ainda batem.
Não de paixão; mas de afecto.
Sempre que te vejo nos corredores.
Eu vejo uma memória daquilo que nunca aconteceu.
Sinto saudades daquilo que aconteceu.
Lembro-me da facada que me deste quando renegaste a minha poesia.
Para ti um poeta é um caçador e diabrete.
Poesia são meras palavras vãs sem sentido e verdade.
A minha poesia é feia e asquerosa.
Não sou a tua rocha ou a tua alegria.
Então irei desaparecer como um corvo pela noite e nunca mais ser visto.
Não precisas de mim.
Nunca precisaste.
Eu para ti estarei morto.
Um mero espectro no teatro.
Um espectro de um homem fraco e cobarde.
Um amante que apagou todo o rasto de poesia.
Rasguei todos os papéis.
Rasguei a poesia.
E guardei apenas uma replica da poesia numa caixa tecnológica e enfiei-a numa gaveta.
À espera de um dia ver a luz.
À espera que este homem cobarde e fraco recupere a sua força que antes teve quando se apaixonou por lindo anjo de olhos de oceano e delicada voz.
Deixa-me dizer-te um segredo.
Eu sou aquele rapaz gótico do restaurante vegetariano.
Se achas que eu sou um homem fraco e um diabrete.
Deixa-me ir.
Como se fosse um espectro.
Se me amas.
Reconquista-me; volta a dizer o teu nome ao meu ouvido e recria todos os momentos que me fizeram apaixonar por ti.
A mulher mais humilde que já conheci.
Adeus; meu anjo.
Um anjo que nunca foi meu.
Nem será.

Fernando Emanuel Pinheiro

27 de Outubro de 2025.