• Porquê?
• Não sei.
• Sentes?
• Sinto.
• O quê?
• Difícil. Sinto inveja...
Não, não é inveja, é admiração, admiração por aquelas que admiras, mais do que a mim.
• Não é verdade.
• Não? Eu sei, sei o que gostas e não gostas; sei o que ouves, falas, cheiras, saboreias e vês; eu sei tudo!
• Sabes?
• Sei! Ver os corações que dás em caras alheias, dói-me, dói não ver os teus, dói saber que estás no seio das mulheres, dói não puder mostrar a minha mágoa, esta dor; eu quero estar lá! Quero dançar, esticar, falar, imitar, correr e cantar; quero ser um um pássaro ou um tigre, quero que tu vejas o quanto me fazes louca e sofrida.
• Isso que sentes tem um nome.
•Não! Recuso aceitar que estares no seio das mulheres me incomoda. Não! Que me incomoda dares um coração a alguém que poderia ser eu.
• Mas incomoda, dói.
• Sim... Dói muito.
• A mim também, também dói, mas ignoro, pois esse sentimento faz-nos fugir da realidade social, contudo aproximar-nos da realidade emocional.
• Sentes? Quem?
• O cozinheiro, pois sou péssimo a cozinhar, de madrugada imagino.
• Mas eu não peço um restaurante caro, não é isso o importante...
• E eu não peço que sejas igual aos meus ídolos de estimação, pois para mim a beleza e o estatuto não são o mais importante.
• Dói (dói); quero puder brilhar ao teu lado e gritar!
• Também eu quero puder brilhar ao teu lado e gritar; e nunca traíria, pois seria fiel como a lei; isto tem um nome.
• Sim, isto tem um nome.
Ciúmes.
(os dois)
• Sabes porquê?
• Não, diz-me.
• Porque te amo e a culpa é tua.
Fernando Emanuel Pinheiro
Quinta do Conde, Sesimbra, 31 de Janeiro de 2024.
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