Um bom actor é aquele que faz teatro ou cinema pela Arte e pelo divertimento, pelo prazer de brincar ao faz-de-conta; é aquele que possui imaginação e cultura, que sabe que está dentro de uma pintura imaginária de uma moldura dramatúrgica. Não é aquele que faz alegadamente teatro ou cinema pela potencial fama ou a ilusão que será rico, que está mais preocupado com a sua reputação ou em dar graxa e não em trabalhar e imaginar um universo inteiro cheio espírito, magia e erudição. Aliás, os actores que sentem inveja de outros actores, sentem, porque no fundo sabem que os outros são melhores actores do que eles. Melhores em quê? A imaginar alto e com humildade. Coisa que alguém com inveja não consegue fazer; pois um bom actor é aquele que imagina alto mas é humilde com os colegas. Que não faz distinção entre figurante, figurante especial, actor amador, actor profissional, técnico de câmara, fotógrafo, agente, assistente de guarda-roupa, maquiadora, assistente de realização e realizador; que trata todos em pé de igualdade e respeita o trabalho de todos. Coisa que por vezes não se verifica, quando inclusive assistentes de guarda-roupa assediam sexualmente outros figurantes. Ou colegas (que acham que vão ser famosos) confundem actores profissionais com actores amadores... Perdendo, ironicamente, a sua oportunidade de serem famosos, quando maltratam um actor supostamente amador, quando até é na realidade um actor profissional. Acontece. Um bom actor é aquele ajuda os colegas e actua com eles em uníssono a contar uma história. Não uma história hermeticamente selada a sete chaves. Mas uma história aberta para o público e deixar o público fazer parte dessa mesma história. Um bom actor, sempre humilde, deixa os imigrantes-espectadores invadirem e quererem quebrar a quarta parede, sem o actor deixar de ser o personagem que é naquele momento, pois a máscara só sai quando a história termina, mesmo se não houver muros entre o mundo das ideias do teatro e os espectadores cegos; entre a luz e a treva; entre o sagrado e o profano; entre o amador e o profissional. Naquele momento em que uma história está a ser contada, todos são personagens, e logo todos são actores, incluindo os espectadores. E lembrar que os actores ou os artistas no geral não são ricos; a maioria recebe a recibos verdes e sem contrato; e entrar para o meio artístico na esperança de ser rico ou famoso; é a coisa mais infantil que já ouvi na minha vida. Portugal não é Hollywood. Sou o primeiro a admitir que sou um canastrão, nem nunca serei famoso (nem quero ser, ia logo perder a minha liberdade e privacidade que tanto prezo), mas no meio artístico, todos são actores ou intérpretes, bons ou maus, maiores ou pequenos, gigantes ou anões; todos são, sem excepção, actores. Isto vale também para outras artes como a literatura, bons ou maus escritores, todos são escritores, com ou sem prémio literário. É igual, somos todos actores. E por vezes o grande actor é aquele que é um gigante no meio dos anões.
Fernando Emanuel Pinheiro
12 de Março de 2025.
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